Poesias

Eu e você

Porque a espera se acaba na chegada;
A luta se extingue na conquista;
E as desavenças se desfazem no diálogo.
E de troca em troca nos completamos
Até formar um único coração
E uma única alma.


Para sempre Fenix

A Grande Ave jaez pressionada no peito por uma lápide.
Respira o que seria seu último arfar de ousadia irônica,
Que de tão profano e insano, despreza o sagrado.
Sua voz feito trovão, grita em forma de maldição,
O nome de seus inimigos.
Seu verbo regurgita o ódio nefasto
Destilado na revolta.
Purga pelas profundas feridas
O pus necrosante da inação.
E expelindo o veneno da auto aniquilação
Que se disfarça de auto piedade ou depressão
Sai do estado de inércia,
Retirando, num gesto inesperado, a pedra do peito e...
...alça majestoso voo.
Do alto esboça um sorriso irônico para os que a velavam e
Como ave de rapina, paira sobre o abismo do medo,
Exercitando o voo para o mais alto
Onde as certezas são reais. 


Me de uma arma

Me dê uma arma agora!
Preciso de munição para acabar com a vida.
Não a vida física que vem do animus
Que permite ao corpo de carne agir
E a mente trassar essas linhas.
Falo da vida feita de fatos incontroláveis,
De acontecimentos inesperados,
E das surpresas desagradáveis
Que vão lentamente minando a nossa existência,
Aproveitando as brechas do presente,
E o famoso "Deixe a vida me levar..."
Para semear dor no futuro.
Não quero mais ser joguete de forças que não entendo.
Aproveitando meu momento de fúria
Acabarei também com a esperança.
Esta, aliada da vida, fomenta as ilusões as falsas certezas e os sonhos,
Nos fazendo acreditar que tudo um dia vai melhorar sem esforço
Ou pela vontade do invisível cujo maior atributo é o de ser invisível.
Acreditando nas ilusões da esperança somos facilmente arrebatados pelo tempo
E a este dedico uma parte considerável de minha raiva.
Por ser inconstante e mutável não é passível de ser alvejado.
Nos deixando levar pela vida induzidos pelas ilusões da esperança
Somos abocanhados, mastigados e regurgitados pelo tempo até que nossa existência finde.
Por isso estou banindo as duas primeiras de minha existência
E pretendo fugir ao máximo do outro que me persegue sem tréguas.
E mesmo sabendo que a derrota é certa
Vai me restar a alegria de ter lutado de olho abertos encarando os inimigos
E eles terão a certeza de que aqui jaz um ser desperto e lúcido
Que nunca se curvou as suas imposições.


Desperta

Deixe que a sua indignação seja o alimento de sua revolta
E que o teu ódio sirva de munição pontiaguda e perfurante
A sangrar a carne de todas as injustiças.
Se omitir não é opção.


Aparências

O que sou não se parece com a aparência formal e utópica da realidade  inútil e fria.
Não sou uma meia verdade que se esconde nos sonhos temente do que vai ver no espelho.
Com cinzas escrevo a esmo em páginas corroídas e chamuscadas pelo fogo.
Não invento verdades nem ressuscito mortos: apenas crio e recrio meu universo,
feito lume que se extingue hoje apagado pela frieza dos corações,
Que renascera a cada amanhecer mais belo, mais forte e mais difícil de apagar.


Magma

A calma brisa que sopra e desaparece, não acalenta mais
Pois a explosão que espalha cinzas e lava é iminente.
E do magma que esfria e solidifica na superfície,
Fruto da violência insana da natureza,
Renascera nova vida.


A Diversão, a Alegria e a Felicidade

De mãos dadas com a coragem sai a procurar a felicidade.
Mas depois de tantos obstáculos e impedimentos tentei desistir
E abandonei a coragem.
Busquei então a diversão...
Rapidamente o ambiente se iluminou e a festa se fez:
Estampidos e gargalhadas ressoaram no ar como relâmpagos
E como chuva de verão se esgotaram em si mesmos
Deixando a sensação de querer mais e mais
Ao lado da frustração de não poder.
Foi ai que busquei a alegria:
Criativa e espirituosa, esta durou um pouco mais.
Com sua conversa empolgante
desenhou um mundo ideal onde tudo dava certo,
Até que desse errado.
E assim a alegria foi embora chorando.
Desiludido e cansado busquei a fuga.
Que rapidamente também me abandonou
Na companhia da covardia.
A covardia atraiu a vergonha e a culpa
Que me lançaram ao chão
Agrediram-me com chutes
Cuspiram na minha cara
E se foram me deixando a espreitar
morte que também me olhava aguardando minha inciativa.
Foi ai que lembrei da coragem.
Que apesar dos obstáculos e impedimentos estava sempre ao meu lado.
Foi quando ela repareceu, estendeu-me as mãos
E novamente fomos em busca da felicidade.