13 de mai. de 2013


Sindrome de Pilatos

Não consigo compreender como uma sociedade com tantos avanços tecnológicos e intelectuais aceita conviver com os quadros que nos deparamos diariamente pelas ruas e através da mídia. Parece que uma síndrome de Pilatos ronda nossas consciências, fazendo com que lavemos as mãos a cada cena de injustiça social. Cito a metáfora de Pilatos, pois, como ele, estamos transferindo nossa capacidade de agir para as autoridades políticas que, ébrias de poder, nada fazem. Essas mesmas autoridades são os representantes de nossa vontade, pois foram eleitos por nós. Assim, sabiamente a nossa Constituição em seu Artigo 1º, parágrafo único registra que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Daí concluirmos que a ilusão provocada pela síndrome de Pilatos é como um bumerangue que vai e volta nos nocauteando onde menos esperávamos.
Não podemos mais lavar as mãos diante das imagens dos miseráveis que perambulam pelas ruas, que só tem a aguardente e as drogas para se sentirem vivos; nas crianças que vivem nas ruas fugidas da violência no lar; nos sem teto que aguardam a reconstrução de suas casas depois de chuvas fortes enquanto o estado reconstrói em tempo recorde passarelas do samba e estádios de futebol embelezando cidade para estrangeiros. É certo alguém nascer condenado à miséria ou ser condenado a esta depois de uma vida de lutas? Pois esta é a pena que essas pessoas estão condenadas, enquanto a economia do nosso país bate recordes positivos favorecendo somente os mais ricos.
Onde estão os princípios fundamentais do Estado Brasileiro que colocam a dignidade da pessoa humana e a cidadania a frente dos interesses egoístas de uma minoria? Não cabe só aos dirigentes do Estado o poder de iniciativa. Quando se fala em cidadania devemos entender como uma via de mão dupla. Dessa forma compete também a nós, no exercício das prerrogativas do Artigo 1º, admitirmos que somos os detentores originais do poder estatal. A síndrome de Pilatos que assola nossa sociedade deve ser extirpada de nossas mentes para que possamos assumir nosso papel de cidadãos que elegem e exigem de seus representantes iniciativas que levem a dignidade da pessoa humana a cada canto do nosso país.

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